sexta-feira, 28 de abril de 2017

A escola de pintura

 Imagine uma escola de pintura. Ao entrar, você recebe uma tela em branco
e encontra vários alunos pintando.
Muitos estão trabalhando há anos, e os quadros são de todos os tipos,
desde obras maravilhosas até telas completamente destruídas.
As tintas, pincéis e materiais de pintura estão espalhados por toda a sala,
alguns bem acessíveis, utros em locais bem difíceis.
Apesar de ser uma escola, não há professores. É tudo por sua conta.
O que você faria nessa situação?
Pegaria qualquer pincel e simplesmente espalharia tintas em sua tela?
Observaria os que estão trabalhando e tentaria imitar alguém talentoso?
Juntaria sua tela às de outras pessoas e pintaria um grande painel em equipe?
Tentaria criar uma obra original e aprender com seus próprios erros?
Utilizaria ape- nas os materiais mais acessíveis
ou batalharia para conseguir também os mais difíceis?
Volto a perguntar, o que você faria?
Na minha opinião, a vida é como esta escola de pintura.
As pinceladas são as nossas ações.
Às vezes, damos pinceladas de mestre.
Usamos o tipo certo de pincel, a mistura correta das cores e movimentos precisos.
São as nossas boas ações. Aquelas que nos fazem dormir tranqüilos
e com um sorriso no rosto.
Outras vezes, borramos todo o nosso quadro e pensamos:
“Argh! Estraguei tudo. Não tem mais jeito”.
Desejamos até jogar a tela fora e parar com tudo.
Vamos dormir arrasados e querendo morrer.
É nesta hora que precisamos lembrar da escola de pintura.
Não se desespere. Por mais borrado que seu quadro esteja,
você sempre pode pegar um pincel limpo, as tintas certas e pintar por cima.
Se você disse algo ruim para alguém, peça perdão.
Se fez algo que não deveria, volte lá e conserte.
Se deixou passar uma oportunidade de elogiar;
procure a pessoa ou pegue o telefone e faça o elogio.
Se teve vontade de acariciar alguém e não o fez,
faça-o na próxima vez que encontrá-lo(a)
e diga-lhe apenas que está acertando seu quadro;
tenho certeza de que você será compreendido.
A única coisa que você não deve fazer é deixar os borrões aparecendo.
Não interessa quão antigos eles sejam.
Se estiverem lá; corrijaos.
É corrigindo que aprendemos a não cometê-los
e nos tornamos artistas cada vez melhores.
Fazendo assim, não importa se teremos mais duzentos anos
ou apenas mais um dia para nossa pintura.
Quando formos chamados para expô-la, ela estará perfeita.
Talento, tenho certeza, todos nós temos.

-Lopes, Roberto O livro da bruxa / Roberto Lopes. - São Paulo 2003.

terça-feira, 7 de março de 2017



Rosa (pano de prato)




:
ONDE ANDARÁ O MEU DOUTOR?
(Autor ou Paciente Desconhecido)
"Hoje acordei sentindo uma dorzinha. Aquela dor sem explicação e uma palpitação.
Resolvi procurar um Doutor e fui divagando pelo caminho. Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco. E que pra mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo. O meu doutor que curava a minha dor, não apenas a do meu corpo mas a da minha alma, que me transmitia paz e calma.
Chegando à recepção do consultório fui atendida com uma pergunta:
- Qual o seu plano?
- O meu plano?
-Ah, o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio epreencher esse vazio que sinto agora!
Mas a resposta teria que ser outra:
O “Meu plano de saúde”...
Apresentei o documento do dito cujo, já meio suado, tanto quanto o meu bolso, e aguardei. Entrei e o olhei, me surpreendi...
Rosto trancado, triste e cansado. Será que ele estava adoentado? Quem sabe, talvez gripado. Não tinha uma expressão alegre, provavelmente devido à febre.
Dei um sorriso meio de lado e um bom dia. Olhei o ambiente bem decorado. Sobre a mesa à sua frente, um computador. E no seu semblante, uma dor.
O que fizeram com o Doutor?
Quando ouvi sua voz, de repente:
- O que a Sra. sente?
Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo, pois parecia mais doente que eu, a paciente...
- Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação.
Esperei a sua reação.
Pensei: Vai me examinar, escutar a minha voz, auscultar meu coração...
Para minha surpresa, apenas me entregou uma requisição e disse:
- Peça autorização desses exames para conseguir a realização.
Quando li, quase morri.
“TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA”,
“RESSONÂNCIA MAGNETICA”
e “CINTILOGRAFIA”
Ai meu Deus, que agonia!
Eu só conhecia uma tal de “abreugrafia”!
Só sabia o que é estar a “ressonar” (dormir)
De “magnético”, eu conhecia um olhar...
E “cintilar”, só o das estrelas!
Estaria eu à beira da morte? De ir para o céu?
Iria morrer assim ao léu?
Naquele instante, timidamente, pensei em falar: terá o senhor amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio? Que fazer com essa sensação de vazio?
Observe, doutor, o “tal pai da Medicina”, o grego Hipócrates acreditava que:
“A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR”
Olhe pra mim... É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é sacerdote, tem família e todo os problemas inerentes ao humano. Mas, por favor, me olhe, ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute, ausculte e examine. Estou sentindo falta de dizer até “aquele 33”! Não me abandone assim de uma vez! Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança! Alimente a minha mente e o meu coração, me dê, ao menos, uma explicação! O senhor não se informou se eu ando descalço... ando sim! Gosto de pisar na areia e seguir em frente, deixando as minhas pegadas pela estrada da vida. Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Existirá uma gotinha de solução? Será que existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio? Que falta o senhor me
faz, meu antigo doutor! Cadê o Scott, aquele da emulsão? Que tinha um gosto horrível, mas me deixava forte que nem “um Sansão”! E o elixir? Paregórico e categórico? E o chazinho de cidreira que me deixava a sorrir sem fronteiras? Será que pensei asneiras? Ah, meu querido e adoentado Doutor, sinto saudades dos seus ouvidos para me escutar, das suas mãos para me examinar, do seu olhar compreensivo e amigo... Do seu pensar...
O seu sorriso que aliviava a minha dor, que dava forças para lutar contra a doença e que estimulava a minha saúde e a minha crença... Sairei daqui para um ataúde? Preciso viver e ter saúde! Por favor, me ajude!
Oh, meu Deus! Cuide do meu médico e de mim, caso contrário, chegaremos ao fim...
Porque da consulta só restou uma requisição digitada em um computador, e o olhar vago e cansado do Doutor!
Precisamos urgente dos nossos médicos amigos, a medicina agoniza, ouço até os seus gemidos. Por favor, tragam de volta o meu Doutor!
Estamos todos doentes e sentindo dor... Peço para o ser humano uma receita de “calor” e, para o exercício da medicina, uma prescrição de “amor”!"